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Histórico Sobre as Fotonovelas


Histórico que faz parte da Monografia do Curso de Artes Visuais - UPF
Acadêmico: Vagner Baldasso
Novembro de 2010


AS FOTONOVELAS - UMA HISTÓRIA DE ASCENSÃO E QUEDA

As fotonovelas, hoje, quase esquecidas, já foram fenômenos de vendas no Brasil nos anos de 1970. Além de possibilitar diversas leituras, possuem inúmeras qualidades pedagógicas que podem ser exploradas dentro de sala de aula ou mesmo em ambientes não formais de ensino.
Primeiramente será delineado um breve histórico sobre a distribuição e produção de fotonovelas, dando destaque àquelas de âmbito nacional.
Compreendendo uma narrativa mista de imagens fotográficas e texto verbal, em seu início, as fotonovelas eram geralmente publicadas em revistas, livretos ou pequenos trechos editados em jornais, entretanto suas raízes são muito anteriores.
As heranças da narrativa com imagens já existem há 15.000 anos antes de Cristo, as pinturas rupestres já traziam seqüências de ações, caçadas e atividades comunitárias da época. outras evoluções determinantes na questão da narrativa ocorreram com a transposição da forma de comunicação oral para o código escrito.
Os egípcios há 5.000 anos, já pintavam seqüências de imagens relatando a vida dos faraós e da sociedade ao seu redor, assim como várias outras civilizações, mesclando símbolos gráficos para a representação fonética.
Na Idade Média, as iluminuras dos pergaminhos e livros serviram para complementar o entendimento da narrativa escrita. Alexandre Valença Alves Barbosa citando Christiansen e Magnussen em sua dissertação de mestrado, faz um histórico sobre os quadrinhos e nos remete a essas características também na cultura Maia:
Essa mescla de texto e imagem não ficou restrita apenas na Europa e Ásia menor. Quando os espanhóis chegaram à América Central encontraram na cultura Maia um sistema de imagens que unia escrita e ilustração. Neste sistema podemos claramente identificar a imagem principal como foco da narrativa e pequenos símbolos que podem ser traduzidos como a escrita Maia. (2006, p. 39-40)
Graças a essas evoluções do processo de comunicação e aos avanços tecnológicos, foi possível a produção de veículos impressos e junto com esses, o folhetim no século XIX, em pleno movimento romântico, estreitamente ligado à literatura de massa.
O Folhetim antecedeu a fotonovela e consistia em uma nova forma de contar histórias no jornal. Segundo Maria Imaculada Cavalcante (2005, p. 64) autora do artigo Do Romance Folhetinesco às Telenovelas: “O folhetim é desde seu nascimento, o romance publicado no rodapé dos jornais, por sua vez, vendido a preços baixos e com grande tiragem, sofrendo grande influência da produção jornalística voltada para o gosto do público urbano.”
Durante todo o séc XX, o folhetim reedita histórias de sucesso. O grande público atraído por essa leitura não se interessa por conhecer seus autores, pois não é a personalidade desses que importa, mas sim os personagens que vivem papéis heróicos pelas causas da justiça e do amor. Leitores fiéis acompanham periodicamente as histórias, não exigindo uma grande literatura, todo o interesse se volta para as narrativas, dramas e tramas. Parece haver preferência por temas amorosos, fantásticos e dramáticos. Camargo e Berezovsky (1978 p. 45) escrevem sobre os folhetins, o que pode ser também estendido à fotonovela: “Buscam-se justificativas para o enorme sucesso do folhetim, a ele se atribuindo conseguir despertar no homem do povo os elementos de fantasia necessários para alimentar seus sonhos.”
Do folhetim a fotonovela ainda herdou a fragmentação em periódicos, presente em algumas revistas, buscando satisfazer o gosto do leitor consumidor com intrigas e divertimento intencionalmente voltados para prender a atenção e conquistar os consumidores para leitura dos próximos capítulos e conseqüentemente a venda de novos exemplares.
Os espaços dos folhetins também foram favoráveis para o surgimento das célebres tiras, com traços estilizados e o enfoque predominantemente cômico. Após, juntando essas tiras formavam-se histórias em quadrinhos. De acordo com Alexandre Valença Alves Barbosa (apud GONÇALO, 2006):
Na década de 30, os norte-americanos tiveram a idéia de fazer um compêndio das tiras de jornal em um único exemplar criando assim a revista de histórias em quadrinhos ou Comic Book. Até então, as histórias eram encartadas nos jornais e vendidas como suplementos. (p. 40)
Essa seqüência de planos presentes nos quadrinhos e também no cinema, antecede a diagramação da fotonovela, mas sem dúvida um dos fatores mais importante para a fotonovela é o advento da fotografia.
A partir de 1926, e atribuída ao francês Joseph Nicéphore Niépce, a fotografia desenvolveu-se em meio a Revolução Industrial e trouxe informações visuais do mundo e das várias realidades sociais. Assim, o aperfeiçoamento técnico da fotografia e com o passar do tempo a fácil manipulação, foram fatores importantes para o surgimento da fotonovela.
Os primeiros indícios desse formato com fotos e narrativa, foram vistos nos cartazes de filmes e anúncios publicitários, que traziam um resumo do que estava por vir nos cinemas.
As fotonovelas, como as conhecemos, surgiram na década de 40 na Itália após a II Guerra Mundial, chamadas fotoromanzi ou fumetti, esse último utilizado também para definir os quadrinhos, referindo-se ao espaço das falas parecido com fumaça.
Em seu princípio, revistas de fotonovelas publicavam adaptações de filmes, segundo E-Dicionário de Termos Literários (http://www.fcsh.unl.pt/edtl/index.htm) editado e organizado por Carlos Ceia:
O neo-realismo em voga na Itália determinou as descrições quotidianas e a temática urbana e realista presente nas fotonovelas. Os iniciadores da fotonovela em Itália foram Stefano Reda e Damiano Damiani que começaram por publicar em revistas adaptações de filmes de sucesso (o chamado cine-romance que adaptou obras como O Conde de Monte Cristo, O Monte dos Vendavais, Ana Karennina, e A Dama das Camélias). Essas primeiras fotonovelas eram protagonizadas por atores populares e as revistas tentavam realçar um determinado tipo de imagem do ator em questão. (Galucho, 2008, s/p).
O sucesso da fotonovela foi motivado pela popularização do cinema nas décadas de 1940 em diante, que crescia embora fosse de difícil acesso para o público geral. Não foi à toa que muitos artistas do cinema foram chamados a participar de fotonovelas, aproveitando a fama dos mesmos.
Ainda, na década de 1940, segundo Thomaz Souto Correia(2000, p.181), diretor editorial do livro A Revista no Brasil, a revista "Encanto", da Coluna Sociedade Editora, trouxe as primeiras fotonovelas ao Brasil, essas produções eram trazidas de fora, principalmente da Itália, traduzidas e inspiravam-se nos tais folhetins consagrados, como "A Dama das Camélias" de Alexandre Dumas.
A impressão da "Grande Hotel" (Ilustração 01), pela editora Vecchi circulou desde 1947, só a partir de 1950, publicou sua primeira fotonovela, mas antes de adotar essa novidade a revista publicava histórias de amor em quadrinhos, com um formato semelhante como pode ser visto na Ilustração 02, se ocupando do mesmo esquema dos quadrinhos para produzir romances, um misto de melodrama familiar, aventuras e fantasias em fascículos, quase sempre com final feliz.
Ilustração 1 - Grande Hotel nº 177, Capa
Ilustração 2 - Grande Hotel nº 177, página 25
GRANDE HOTEL, Editora Vecchi, 177, ANO IV- 12-XII- 1950.
(acervo do autor)

A Revista "Grande Hotel" foi uma das inspirações para o surgimento da revista concorrente "Capricho", criada em 12 de junho de 1952 pelo então fundador da Editora Abril, Victor Civita. Era uma revista quinzenal, de formato pequeno, com fotonovelas e histórias de amor desenhadas em quadrinhos, além de outros tópicos como moda, beleza, comportamento, contos e variedades.
O sucesso no mercado das revistas teve um certeiro golpe do fundador e atual presidente do Grupo Abril, Victor Civita, que decidido a inovar, passou a publicar a "Capricho" em edição mensal, com uma única fotonovela na íntegra, obtendo também uma resposta rápida de seus leitores.
Em 1956, a "Capricho" atingiu, até então maior tiragem de uma revista da América Latina, rompendo a marca dos quinhentos mil exemplares, sucesso que perdurou ao longo dos anos 1960, que estava relacionado especialmente às fotonovelas por ela publicadas (CORRÊA, 2000, p.176). Há de se considerar ainda nesse grande feito, o nível de analfabetismo no Brasil relativamente alto na época.
Na década seguinte, 1960, a revista “Sétimo Céu”, da Editora Bloch, decidiu “abrasileirar” os temas e os personagens para aproximar-se dos leitores. Foi a primeira a produzir fotonovelas no Brasil, estreladas por cantores como Jerry Adriani, Agnaldo Rayol e atrizes como Vera Ficher. Faziam parte dessas fantasias os ambientes litorâneos com clima ensolarado, sungas e biquinis.
Ente 1960 e 1980, mais de 20 títulos de revistas de fotonovelas circulavam no Brasil. Entre elas, possuíam maior tiragem a revista “Capricho” (ilustração 3), “Sétimo Céu” (ilustração 4) e “Grande Hotel” (ilustração 5), circulando ainda em escalas menores: “Super Novelas Capricho”, “Ilusão”, “Jacques Douglas” (ilustração 6), “Cartaz” (ilustração 7), “Noturno” (ilustração 8), “Fascinação”, “Contigo”, “Carinho”, “Amiga”, “Carícia”, “Sentimental”, “Jenifer”, “Melodia”, “Lucky Martin”, entre outras.
Ilustração 3 - CAPRICHO, Editora Abril - ANO XV – Nº 170 – Abril de 1966.
Ilustração 4 - SÉTIMO CÉU, Editora Bloch - Nº 14 - Junho de 1965.
Ilustração 5 – GRANDE HOTEL, Editora Vecchi - ANO XIX – Nº 916 – Fev. de 1965.
(acervo do autor)

Ilustração 6 - JACQUES DOUGLAS, Editora Vecchi, ANO XI – Nº 126 – 1977.
Ilustração 7 - CARTAZ, Rio Gráfica Editora S.A., RJ - Nº 49 – fevereiro de 1973.
Ilustração 8 - NOTURNO, Editora Abril, ANO IX – Nº 104 – Janeiro de 1968.
(acervo do autor)


Conforme dados nos cadernos CEBRAP (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), em que veiculam resultados relevantes de pesquisas em andamento nesse período, obtemos os dados em números de tiragem e respectivas vendas, das três revistas mais vendidas no país no ano de 1975, segundo o IVC (Instituto de Verificação de Circulação) e transcritos por Camargo e Berezovsky (1878, p. 49):

2º trimestre de 1975
Capricho (média quinzenal) 248.643
Grande Hotel (média Mensal) 69.872
Sétimo Céu (média Mensal) 107.607
3º trimestre de 1975
Capricho (média quinzenal) 275.500
Grande Hotel (média Mensal) 65.113
Sétimo Céu (média Mensal) 161.520

A revista “Capricho” a mais vendida, só perdia para as revistas de quadrinhos infantis “Pato Donald”, “Mickey” e “Tio Patinhas” (cada uma com uma média periódica aproximada de 400 mil exemplares).
A circulação dessas edições era de âmbito nacional, conforme indicadas nas próprias revistas, a distribuição abrangia locais como: Manaus, Acre, Amazonas, Pará, Maranhão entre outras. A maioria tinha como pólo de redação e administração a cidade do Rio de Janeiro, como é caso da revista “Grande Hotel”. Deve ser observado o fato que essas publicações não atingiam somente as grandes cidades, mas também pequenas localidades do interior, afastadas dos grandes centros metropolitanos.
Em 1980, ainda circulavam exemplares de fotonovelas, mas com a ascensão da televisão e outras manifestações de massa, cada vez mais diversificadas, começa o declínio dessas revistas, deixando de ser o centro das atenções do público leitor. Embora a revista “TV sucesso” da editora Bloch, tenha criado a “fatonovela”, baseada em fatos reais, revistas como a “Cartaz” da Editora Rio Gráfica, “Amiga”, da Bloch, e “Intervalo” da Abril, passaram a tratar de sua sucessora, a telenovela.
Em âmbito mundial, na França, a primeira fotonovela data de 1949, passando para Luxemburgo e Bélgica logo depois. Na Espanha a fotonovela surge nos finais dos anos 60 e conta com um público bastante extenso, chegando somente mais tarde à África do Norte que como aqui, a maior parte das revistas eram traduções dos originais italianos. Conforme Isabel Galucho (2008. s/p) a fotonovela se caracteriza um produto de literatura de massa tipicamente latino, não tendo ocorrência no mundo anglo-saxônico.
De 1950 a 1990, diversos gêneros de leitura foram tratados em fotonovela, produções nacionais e internacionais investiram em narrativas, diferentes dos romances de público-alvo feminino, embora tivessem sido vendidos em menor escala, algumas fizeram sucesso, com edições contínuas ou especiais.
Na década de 1950, surgem fotonovelas do herói de luta livre “Blue Demon” (ilustração 9) no México, mais conhecido pela sua máscara azul. Em suas fotonovelas “Blue Demon” lutava contra vampiros e monstros mal intencionados.
Ilustração 9 - Blue Demon, 1º Edição, capa e detalhe.


Na década seguinte, 1960, surge “Killing” (ilustração 10), com histórias de um anti-herói terrível e diabólico, produzida para adultos, o personagem “Killing” compete com o inspetor Mercier que o procura incansavelmente. Tem forma de esqueleto e utiliza máscaras de carne como disfarce provavelmente de suas vítimas. Seu título original era publicado pela Editora Ponzoni e editor Pietro Granelli. Vários crimes e torturas e, ainda, mulheres com pouca roupa estavam sempre presentes nos episódios. Reedições dessas revistas surgiram na França com o título de “Satanik”, na Espanha “kiling” e no Brasil na década de 70, com o título original “Killing”, publicado pela Rio Gráfica Editora.
Ilustração 10 - Killing, 2ª Edição, capa e detalhe.


Na década de 70, apareceram produções na Argentida pela Editorial Record, vários títulos como “Goldrake”, “Yorga”, “Ultratumba”, “Arãna Negra”, “Namur”, republicações de “Killing” em uma mesma linha de enredos com heróis, heroínas e vilões, em que suspense, terror e climas sensuais eram oferecidos ao leitor.
Entre essas produções podemos destacar a “Arãna Negra” (ilustração 11), estrelada sempre pela atriz local Linda Peretz, uma heroína misteriosa que trabalha na Inglaterra. Também da mesma editora a espiã “Namur” (ilustração 12) e o homem lagarto “Yorga” (ilustração 13) pertenciam a essa década.
Ilustração 11 - ARÃNA NEGRA -Editorial Record.

Ilustração 12 - NAMUR - Editorial Record
Ilustração 13 - YORGA -1ª Edição, Editorial Record.
Para o público infantil a produção da fotonovela foi pouco explorada, apenas exemplares especiais, como exemplo revistas do herói japonês Jaspion (ilustração 14), lançadas em 1989 pela editora Bloch. Utilizando imagens de baixa resolução captadas do vídeo, funcionavam como uma espécie de “quebra-galho”, por não haver revistas em quadrinhos do personagem que tinha enorme audiência pelas crianças no Brasil. Devido ao pouco sucesso em fotonovela, apenas três exemplares foram publicados.
Ilustração 14 - O Fantástico Jaspion, 1ª Edição, capa e detalhe.

Um fator importante enquanto legislação foi a abrangência dos profissionais e artistas que trabalhavam com fotonovela em 1978, Decreto nº 82.385, assinado pelo então presidente Ernesto Geisel, Regulamentou a Lei nº 6.533, de 24 de maio de 78, que dispõem sobre as profissões de artistas e de técnicos em Espetáculos de Diversões. No quadro anexo a esse decreto encontram-se os títulos e descrições das funções, em que se desdobram as atividades de artistas e técnicos e em especial a fotonovela, descreve as seguintes Funções: Arte-Finalista de Fotonovela; Assistente de Fotografia de Fotonovela; Continuísta de Fotonovela; Coordenador de Elenco; Diagramador de Fotonovela; Diretor de Fotonovela; Diretor de Produção de fotonovela; Redator Final de Fotonovela; além do Ator e Figurante que já haviam sido englobados no cinema. (BRASIL. Decreto nº 82.385, 05 out. 1978).
Percebe-se que a fotonovela depois de toda essa história de interação com o público e suas conquistas em meio ao mundo de informações visuais se torna um marco quase esquecido. Poucas são as fontes e estudos que tratam do tema, mas muitas são as recordações que ainda deixam em seus leitores, pessoas que tinham na fotonovela uma de suas principais leituras, eram transportados para uma “viagem” gratificante em meio a lugares e enredos fascinantes.
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